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O poder terapêutico do vínculo com os animais

  • Foto do escritor: Edla  Santa Brígida
    Edla Santa Brígida
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura
Edla Brígida, em momento de descontração com sua Kyra
Edla Brígida, em momento de descontração com sua Kyra

Há momentos em que a alma pede silêncio, não aquele vazio da ausência, mas o silêncio cheio de presença. Um olhar que se cruza, um corpo que se encosta, uma respiração que se alinha à nossa. É nesse instante, simples e sagrado, que percebemos: estar com quem (ou com o que) amamos pode transformar completamente o nosso estado emocional. Assim é quando nos deixamos tocar pela presença de um animal.


O convívio com um pet é mais do que companhia: é uma experiência de reconexão com o essencial. Ele nos ensina a desacelerar, a escutar o que não tem palavras, a habitar o agora. Quando um cão repousa a cabeça sobre o nosso colo ou nos observa em silêncio, algo dentro de nós se reorganiza. A respiração muda, o corpo se solta, e o coração aprende, pouco a pouco, a descansar.


A psicologia e as neurociências já reconhecem o poder curativo dessa relação. Estudos mostram que interagir com animais de estimação reduz os níveis de cortisol, o hormônio do estresse e estimula a produção de ocitocina, neurotransmissor associado ao amor, à empatia e à sensação de segurança. O simples toque em um pet é capaz de reequilibrar o sistema nervoso autônomo, tirando o corpo do estado de alerta e devolvendo-o à calma.


De acordo com a Revista Científica do ITPAC Porto (SILVA et al., 2020), o vínculo afetivo entre humanos e animais é um dos fatores mais eficazes para a redução de sintomas de ansiedade e depressão. O estudo mostra que a convivência com um animal de estimação cria uma rede emocional de suporte, favorecendo o equilíbrio psicológico e o sentimento de pertencimento, algo essencial em tempos de solidão e excesso de estímulos. Mas os benefícios não se limitam à esfera emocional. A presença de um pet afeta também a fisiologia: reduz a pressão arterial, melhora a frequência cardíaca e promove sensação de bem-estar duradoura. Segundo Machado, Lopes e Sousa (2016), tutores descrevem seus animais como “companheiros silenciosos”, capazes de acolher sem julgamento e de devolver ao humano o senso de ternura e leveza perdido no cotidiano. É uma relação que transcende o cuidado material, ela se transforma em elo espiritual.


Conviver com um animal é, de certo modo, uma forma de meditação viva. Eles nos convidam à presença plena, porque vivem inteiramente o agora. Não guardam ressentimentos, não projetam o futuro, apenas são. Quando olhamos para um cão brincando, percebemos o quanto desaprendemos a simplesmente existir. Ele não exige produtividade, não pede perfeição. Apenas está. E nesse estar, oferece cura.


Em um artigo publicado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2022), pesquisadores apontam que o contato com animais de estimação atua como um recurso terapêutico natural contra a ansiedade. O estudo explica que interagir com cães e gatos estimula a liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores ligados à sensação de prazer e satisfação. Mais do que um simples alívio emocional, esse convívio é uma ferramenta de autorregulação emocional e fisiológica, que pode complementar tratamentos psicológicos e psiquiátricos. Há algo de profundamente humano em amar um animal. Talvez porque, ao cuidar dele, cuidamos de partes nossas que pedem atenção: a ternura esquecida, o toque não dado, o amor sem palavras. É por isso que tantas pessoas relatam que seus pets “sabem quando estamos tristes”. Eles não precisam compreender racionalmente o que sentimos, apenas percebem, com o corpo inteiro, o que vibra em nós.


Em minha experiência pessoal, estar ao lado da minha border collie, Kyra, me lembra diariamente da importância das pausas. Quando me deito na rede e ela repousa ao meu lado, com o olhar atento e o corpo tranquilo, sinto meu próprio corpo desacelerar. O tempo parece suspenso, e aquele momento se torna um refúgio. Não há cobranças, nem prazos, nem metas. Há apenas um encontro entre dois seres que se reconhecem no afeto.


Esses instantes de convivência restauram o equilíbrio interno. A psicologia chama isso de regulação emocional relacional, quando um vínculo afetuoso ajuda a reorganizar o sistema nervoso. Animais, sem esforço algum, cumprem esse papel. Eles são presenças que curam, pontes entre o humano e o natural, lembretes vivos de que o amor pode ser simples.


E mesmo quem não tem um animal pode encontrar essa pausa em outros gestos. Um banho tranquilo, uma caminhada ao entardecer, uma música que abrace. O essencial é permitir-se o descanso emocional, esse pequeno intervalo em que o coração se lembra de que não precisa lutar o tempo todo.


Vivemos tempos em que tudo exige velocidade, performance e controle. O convívio com animais nos ensina a arte do contrário: a confiança, a rendição, o instante presente. O toque do focinho úmido, o som do rabo batendo, o calor que se deita ao lado, tudo isso é uma oração muda, um lembrete de que a vida, em sua forma mais simples, já é suficiente.


Então, se você tem um bichinho por perto, permita-se esse carinho. Não como fuga, mas como reencontro. Sente-se, respire, olhe. Deixe o amor que ele oferece ensinar o corpo a relaxar e a alma a estar. Porque é nesse instante de presença que a cura acontece, não como milagre, mas como retorno.


Referências bibliográficas

SILVA, A. P.; OLIVEIRA, D. M.; COSTA, E. R. Animais de estimação e sua influência na saúde mental do indivíduo. Revista Científica do ITPAC Porto, v. 4, n. 2, p. 22–31, 2020. Disponível em: https://itpacporto.emnuvens.com.br/revista/article/download/153/119.

MACHADO, M. A.; LOPES, T. R.; SOUSA, J. P. Convivência com animais de estimação: um estudo sobre a percepção dos tutores. Revista Psicologia e Saúde, PePSIC, v. 8, n. 1, p. 57–68, 2016. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-68672016000100007&script=sci_arttext.

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Bem-estar: o papel dos animais de estimação na redução da ansiedade. Publicado em 2022. Disponível em: https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/bem-estar-o-papel-dos-animais-de-estimacao-na-reducao-da-ansiedade.



 
 
 

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