Quem é o Outro?
- Edla Santa Brígida
- 24 de mai.
- 3 min de leitura

Em um mundo cada vez mais conectado, paradoxalmente vivemos uma era de desencontros, onde o olhar para o outro se torna cada vez mais raso, apressado e muitas vezes indiferente. Mas afinal, quem é o outro? Essa pergunta atravessa séculos, religiões, filosofias e ciências, desafiando nossa capacidade de compreender a alteridade, o reconhecimento da existência e do valor do outro.
O filósofo francês Emmanuel Lévinas, uma das maiores referências no estudo da alteridade, afirma que "o rosto do outro me ordena". Para ele, o encontro com o outro é sempre ético, porque o outro me convoca, me chama à responsabilidade. Na presença do outro, não posso simplesmente ignorá-lo sem que isso gere uma implicação moral. O rosto do outro não é apenas físico, mas a expressão de sua vulnerabilidade e da sua humanidade.
Na psicologia, Carl Rogers, um dos fundadores da abordagem centrada na pessoa, ensina que a escuta empática é uma das maiores formas de encontro com o outro. Segundo ele, compreender verdadeiramente alguém significa estar disposto a entrar no mundo dessa pessoa, abandonar temporariamente nossos próprios julgamentos e abrir espaço para que o outro seja quem é.
A teologia cristã, profundamente embasada nas palavras de Jesus Cristo, também traz essa reflexão. Quando Jesus diz "Amai uns aos outros como eu vos amei", ele não propõe um amor condicional, mas um amor que reconhece no outro a mesma dignidade que Deus reconhece em cada um de nós. O outro, para Jesus, não é o estranho, não é o inimigo, é irmão, é extensão do próprio Deus na Terra.
Martin Buber, filósofo judeu, nos presenteia com a distinção entre as relações "Eu-Tu" e "Eu-Isso". Na relação "Eu-Tu", o outro é um sujeito, alguém com quem eu me encontro de forma inteira e presente, enquanto na relação "Eu-Isso", o outro é visto como objeto, meio ou ferramenta. A desumanização surge exatamente quando transformamos o outro em coisa, em número, em dado.
Na contemporaneidade, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro nos lembra, a partir das cosmologias indígenas que a perspectiva não é única. O outro não é apenas quem eu vejo diferente, mas aquele que também me vê como diferente. A alteridade é um jogo de espelhos: eu sou o outro de alguém. A principal contribuição de Castro é a teoria do perspectivismo ameríndio, que afirma que diferentes seres (animais, plantas, humanos, espíritos) têm perspectivas próprias, e que a alteridade não é apenas ver o outro como diferente, mas reconhecer que o outro também me vê como diferente.
Portanto, refletir sobre quem é o outro é, antes de tudo, um exercício de humanidade. É reconhecer que nenhuma existência é isolada, que todos somos fios entrelaçados na teia da vida. E que, ao desconsiderar o outro, perco também uma parte de mim.
Finalizo esta reflexão com um texto que sintetiza tudo aquilo que, talvez, as palavras acadêmicas e filosóficas ainda tentam nomear, mas que o coração sente e entende:
Quem é o outro?
O outro é espelho que revela partes de mim que sozinho não consigo enxergar. É fronteira e, ao mesmo tempo, ponte. É aquele que me desafia a sair de mim, a entender que não sou centro, nem medida do mundo.
O outro me mostra que a vida não é sobre possuir, competir ou vencer, mas sobre reconhecer, partilhar e construir.
O outro é aquele que carrega dores que desconheço, batalhas que não vejo, cicatrizes que não entendo. É quem me obriga a lembrar que empatia não é favor, é dever. Que compaixão não é piedade, é compromisso com aquilo que nos torna verdadeiramente humanos.
O outro me revela que a humanidade só faz sentido quando deixamos de olhar apenas para dentro e passamos a enxergar para além de nós.
O outro é aquele que me fere, mas também quem me cura. É quem me ensina, mesmo sem saber. É aquele que, quando acolhido, transforma não só a ele, mas também a mim. Porque na dança do encontro, do cuidado e da escuta, somos curados juntos.
O outro, enfim, sou eu em outro corpo, em outra história, em outra caminhada. E talvez, no fundo, a grande pergunta da vida não seja “quem sou eu?”, mas sim: “O que faço eu, diante do outro?” Porque é nessa resposta que se mede a grandeza de qualquer existência.
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É sobre isso:'sobre reconhecer, partilhar e construir'