Perdão não é se abandonar.
- Edla Santa Brígida
- 15 de abr.
- 3 min de leitura

Uma cliente, a quem atribuo o codinome de Xena, me trouxe uma pergunta que carrega muitas histórias dentro dela: "Edla, somos mais fáceis de ser enganados pela nossa mente ou pelo nosso coração?". Ela seguiu me contando: "Tive um problema com uma amiga. Fiquei com sentimento de traição. Fico pensando se exagerei, mas meu coração diz que não. Não quero ser injusta com ela, faço uma retrospectiva e a vejo com atitudes sorrateiras. Meu coração tem um turbilhão de sentimentos. Penso se sou eu. Será que meu coração está me enganando?".
Naquele momento, a emoção tomou conta de mim. Respondi a ela sentindo um lugar de verdade e de acolhimento: “Querida, que linda a sua partilha! Sua pergunta é profunda e revela exatamente o que o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung acreditava sobre a nossa relação com a mente e o coração”.
Segundo Jung, não somos enganados apenas pela razão ou pela emoção. Somos mais facilmente enganados quando não integramos os dois. Ele dizia que aquilo que negamos em nós ou deixamos escondido no inconsciente, volta em forma de sofrimento, projeções ou enganos. A mente sozinha pode nos enganar com justificativas frias. O coração sozinho pode nos enganar com ilusões ou carências. Mas o pior engano acontece quando ignoramos os sinais que a vida nos dá e que a nossa alma já percebeu há muito tempo.
Por isso, disse a Xena: você não está exagerando. Você sentiu algo real. Seu corpo e seu coração captaram sinais que talvez sua razão queira questionar, mas o caminho da maturidade emocional é esse: Revisitar os fatos com sinceridade. Olhar se houve padrões repetidos. Perguntar-se: essa amizade me nutria ou me drenava? E principalmente: se não fosse comigo, eu acharia essas atitudes certas?
A grande verdade, Xena, é que o coração não engana quando está em paz. O coração só se confunde quando está ferido e ainda querendo ser aceito por quem nos machucou. Jung tem uma frase que eu carrego comigo: "Prefiro ser inteiro a ser bom".
Ser inteiro significa ser verdadeira consigo mesma. Se doeu, se houve traição de valores, não ignore. Mas também não se prenda ao ódio ou ao ressentimento. Apenas coloque essa pessoa no lugar que ela construiu dentro da sua história: um capítulo, não o livro inteiro.
Para Xena, e para tantas outras mulheres que carregam o peso de dúvidas assim, escrevo: PERDÃO NÃO É SE ABANDONAR.
Perdão não é esquecer o que doeu. Perdão não é apagar o que marcou. Perdão verdadeiro é aquele que nasce da maturidade de entender: "Eu não controlo o que o outro faz, mas escolho o que deixo ficar dentro de mim." Você pode perdoar e ainda assim escolher se afastar. Você pode abençoar de longe. Você pode desejar o bem, mas manter distância.
Perdoar não é abrir a porta pra quem te feriu continuar entrando. Perdoar é fechar a porta do sofrimento interno. É soltar o peso da expectativa. É liberar o nó do coração.
Você não exagerou. Você não está confusa. Seu coração sentiu o que precisava sentir. E agora, ele só precisa de descanso, de verdade e de paz.
Não se culpe por ter confiado. Isso é nobreza sua, não ingenuidade.
Não se arrependa de ter amado. Isso é força, não fraqueza.
Mas, acima de tudo, não se abandone.
Porque quem fica com você até o fim da vida é você.
E isso basta. E isso é tudo.

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